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Rogério Moroti
Tribuna Ribeirão - 26/10/2010
Cerca de 100 pessoas trabalham com a revenda de passes em Ribeirão Preto
Uma das intenções do novo sistema de bilhetagem, que vem sendo introduzido nos ônibus coletivos urbanos de Ribeirão Preto pela Transerp, empresa gestora do transporte na cidade, é acabar com a venda de passes por ambulantes, o que deve deixar cerca de 100 revendedores sem fonte de renda.
Este tipo de comércio é tão antigo quanto ao transporte coletivo. Na área central da cidade é possível encontrar pessoas que a mais de 20 anos trabalham com a venda “não oficial” de passes. “Comecei quando os bilhetes ainda eram de papel. Praticamente criei minha família com este trabalho”, declara um ambulante que não quis ser identificado, devido à ilegalidade da prática.
Renda mensal dos revendedores pode chegar até os R$ 1300,00
Outro ambulante, que aceitou apenas se identificar com as iniciais D.F., diz que há quatro anos está no ramo e vende diariamente uma média de 150 passes. “Trabalhava na usina e larguei mão, eles não me pagavam e vim pra cá”, declara.
Indagados como conseguem os cartões, eles explicam que os próprios usuários os procuram para repassar o vale-transporte, dentre eles, funcionários que preferem trabalhar com veículo próprio, pessoas que perdem o emprego e continuam com os cartões e aqueles que recebem mais passes mensais do que usam e acabam colocando na mão dos ambulantes para fazerem uma renda extra. Quanto a cartões roubados, os ambulantes se defendem e dizem que a maioria trabalha com os comprados, mas segundo eles, pode acontecer de alguém vender passes roubados.
Sobre o valo pago, D.F. explica: “Num cartão com 300 passes que a pessoa quer que venda logo, pagamos menos, se os passes são menos e podemos ficar com o cartão mais dias ai pagamos mais”. Dentre três ambulantes perguntados, o valor pago varia entre R$ 1,00 e R$ 1,70. Já o valor de revenda aos usuários é de R$ 2,00, ou seja, R$ 0,40 a menos do que o valor do passe simples tabelado pela Transerp de R$ 2,40. Segundo eles, a renda mensal de tem trabalha somente com este comércio pode giras entre os R$ 900,00 e os R$ 1300,00.
“Cobramos dois (reais), tem alguns que dão 10 ou 20 centavos a mais”, revela D.F., que diz também ter o apoio dos usuários: “Eles (empresas) tiraram o cobrador, demora muito para o motorista fazer a cobrança, sem falar que eles muitas vezes nem troco tem e pedem pros usuários comprarem de nós”. Prática facilmente constatada nos principais pontos da cidade, onde nos horários de pico, são praticamente os ambulantes que vendem os passes na porta dos ônibus, agilizando o embarque dos passageiros.
Os revendedores explicam também como funciona o sistema de hierarquia dos pontos de vendas: “Cada um trabalha no seu ponto, tem pessoas que estão há 10, 15, 20 anos no mesmo lugar e isso é respeitado”, declara outro ambulante da zona central que se nega a identificar.
O diretor de transportes da Transerp, José Mauro Araújo, confirma que um dos objetivos do novo sistema de bilhetagem é acabar com a prática exercida pelos ambulantes, ele explica que a legislação federal prevê que o vale-transporte seja usado somente para o deslocamento entre trabalho ou escola para a residência e vice-versa, qualquer outro tipo de uso, incluindo a revenda do mesmo é proibido. “Todo esse comércio que é realizado hoje, ele é ilegal e não pode ser realizado”, diz.
Ainda segundo Araújo, a responsabilidade sobre o cartão é do usuário. Ele alerta as pessoas para que não repassem seus cartões aos ambulantes, já que existem dois processos em andamento na Polícia Civil, com cartões apreendidos com os revendedores, e os titulares do vale-transporte estão sendo chamados à delegacia para prestar depoimento, e poder sofrem punições.
José Mauro explica que com os novos cartões esta prática deverá acabar, visto que o uso diário é limitado, impossibilitando a revenda por ambulantes.
Os próprios ambulantes mostram preocupação com o futuro. “Já está difícil encontrar cartões antigos para se revender. Para o ano que vem vai ficar difícil de trabalharmos, e mesmo se conseguirmos, a Transerp deve colocar a Polícia pra fiscalizar”, declara D.F.
“Teremos que fazer outra coisa, procurar outro emprego, só não vou roubar”, argumenta outro ambulante que vai além: “Serão umas 100 pessoas que perderão o emprego. Gostaria de saber qual crime eu cometo revendendo aquilo que comprei”, finaliza.
Em março do ano passado, a situação dos ambulantes foi discutida pela Câmara Municipal diretamente com um grupo de ambulantes e com a Transerp, porém, nenhum acordo para a legalização ou não da prática foi formalizado.